Doação de sangue: uma análise da nossa corrente do bem

Uma grande preocupação durante a pandemia de COVID-19 é a manutenção dos estoques dos bancos de sangue no Brasil. Locais em quarentena, medo de exposição ao vírus durante a ida ao local de doação, impedimento temporal de doação em quem está infectado pelo COVID-19 ou se vacinou são algumas das limitações mais importantes. Neste cenário, segundo dados do ano de 2020, houve queda no número de doações em aproximadamente 20%. (1)

No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, 1,6% da população doa sangue com regularidade. Esse número fica um pouco abaixo dos 2% ideais definidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Assim, alguns bancos de sangue operam no limite. Mesmo antes da pandemia, já era possível observar uma queda de doação de sangue ao compararmos com anos anteriores. (2)

Uma história de solidariedade

Atualmente, parece muito natural olharmos para um paciente recebendo uma bolsa de sangue e considerarmos este tratamento seguro. Mas até pouco tempo atrás, o impacto da Aids, o “medo do sangue”, e a desconfiança com relação aos serviços eram evidentes. Até a década de 80, o contexto histórico do sangue como terapia transfusional foi marcado pela remuneração da doação, que impregnou no imaginário coletivo sentimentos de troca, de favor, e não a solidariedade como motivador.

A história da doação de sangue se modificou nas últimas décadas, com o objetivo de oferecer à população um produto seguro. Alguns pontos essenciais neste processo foram a reestruturação dos serviços, legitimação da doação de sangue como ato voluntário, altruísta e não remunerado, além dos avanços tecnológicos, legislações e normatizações técnicas. A Hemorrede Pública Brasileira tem como missão garantir o fornecimento de sangue para toda a população de forma segura e sustentável, buscando a seleção de candidatos à doação que sejam saudáveis e voluntários. (3)

São muitas as motivações para a doação de sangue. Fazer parte desta hemorrede e ter a consciência de que cada bolsa de sangue doada tem o potencial de impactar pessoas (até 4 vidas!)  e leva muitas pessoas à doação espontânea. Mas também há os casos em que o incentivo principal é ter algum amigo ou familiar doente necessitando de transfusão (doação de reposição). Você tem curiosidade de saber qual a principal motivação dos brasileiros segundo dados atuais?  (4)

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Fonte: Adaptado Anvisa, 2020

Como as doações no Brasil são voluntárias e sem regularidade pré-definida, ocorre uma discrepância no número de bolsas arrecadadas por regiões e nem sempre há equilíbrio entre necessidade de sangue e número de voluntários aptos a doar. Durante a pandemia (até outubro de 2020), por exemplo, foram mobilizadas 1600 bolsas de sangue entre estados brasileiros. Este cenário revela a necessidade de conseguirmos doadores de sangue e estarmos atentos às necessidades específicas de cada hemocentro. (5)

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Fonte: Adaptado de Anvisa, 2020

No gráfico, podemos ver uma desproporção entre voluntários a doação de sangue nas diferentes regiões, com uma importante concentração no Sudeste.

 

A importância da periodicidade

Manter os estoques de bolsas de sangue estáveis em cada hemocentro é um desafio. No próximo gráfico, mostraremos um comparativo entre as doações de sangue pela primeira vez, doação esporádica (indivíduo repete a doação após intervalo superior a 12 meses desde a última doação) e doação de repetição (indivíduo doa 2 ou mais vezes no ano). Deve-se observar a importância das doações de repetição no ano de 2019, representando, em média, 43,3% das doações totais, para mantermos os estoques durante este período. (4)

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Fonte: Adaptado de Anvisa, 2020

Vamos ser um elo da corrente?

No Brasil, temos uma hemorrede bem estruturada e impulsionada pela doação voluntária. Evoluímos muito nos últimos anos no sentido de oferecermos segurança nas transfusões de sangue. Porém, ainda temos alguns desafios, como manter os estoques estáveis nas diferentes regiões do país.

Durante a pandemia, ficou ainda mais evidente a necessidade de estarmos atentos às necessidades locais dos hemocentros. Para mantermos os estoques, precisamos enfocar a doação regular, além de estarmos atentos aos alertas de necessidade de doação emitidos. Você sabia que existem aplicativos e até uma ferramenta no Facebook que nos ajudam nesta tarefa?

Por último, vale lembrarmos que os hemocentros têm se estruturado para deixar as doações cada vez mais seguras aos voluntários. Há também a possibilidade de fazermos campanhas de doação com amigos e vizinhos em locais como condomínios, empresas, associações. Entre em contato com o hemocentro mais perto de você e seja parte da corrente do bem da hemorrede brasileira!

Bibliografia

  1. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-03/covid-19-doacoes-de-sangue-caem-20-e-governo-lanca-campanha
  2. https://portal.fiocruz.br/noticia/conheca-os-requisitos-necessarios-para-doacao-de-sangue
  3. Ministério da Saúde. Manual de orientações para a promoção da doação voluntária de sangue. Brasília, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_orientacoes_promocao_doacao_voluntaria_sangue.pdf
  4. Anvisa. Relatórios de produção hemoterápica – Hemoprod. Publicado em dezembro de 2020. Disponível em: /https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/sangue-tecidos-celulas-e-orgaos/producao-e-avaliacao-de-servicos-de-hemoterapia
  5. https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/06/ministerio-da-saude-lanca-nova-campanha-de-doacao-de-sangue-2020

Autor:  Júlio Cesar São Pedro

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