A redução do número de casos de HIV no Brasil

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é uma doença causada pelo vírus da HIV. O primeiro caso conhecido no Brasil foi reportado no ano de 1980, e até os dias de hoje, quatro décadas depois, o vírus continua em circulação no país. O Brasil, por meio de ações conjuntas entre governo, ONGs e a sociedade civil, tornou- se uma referência global no combate à doença, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Apesar de todo o avanço realizado até o momento, com campanhas de conscientização e avanços de terapias de prevenção e tratamento, a epidemia continua a existir no Brasil. Fatores comportamentais e o modo como as pessoas encaram e utilizam métodos preventivos podem afetar bastante o ritmo com que o vírus se espalha no país. Sabendo que um aspecto importante na luta contra a Aids é a discussão e a troca de experiência, e com o objetivo de compreender em que passo estamos na luta contra o vírus do HIV, levantamos a seguinte pergunta: “O Brasil está conseguindo reduzir novas infecções por HIV?”.

O Brasil está conseguindo reduzir novas infecções por HIV?

Observando os dados de novas infecções por HIV no Brasil na última década, de 2010 até 2019, vemos uma queda de 16%, com uma redução da taxa de detecção anual a cada 100 mil habitantes de 21,4 para 18,3. Apesar da queda, esse ainda é um número preocupante, dado que novas pessoas continuam sendo infectadas em um ritmo acelerado, sendo 37,3 mil novos infectados em 2019. Os dados foram disponibilizados no Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2021 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

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Quando olhamos para regiões do Brasil, temos cenários distintos, como mostra a figura abaixo.

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O Nordeste atualmente representa a região com maior taxa de detecção do vírus, de 26,4 a cada 100 mil habitantes, um aumento de 21% comparado a 2010. O Sul é o segundo estado, com 23,2, porém vindo de uma queda expressiva de 28%. O Centro-Oeste vem em terceiro lugar, com 19,2, sem mudança expressiva. Sudeste e Nordeste são as regiões com as menores taxas de detecção, aproximadamente 16, porém o primeiro vem em tendência de queda expressiva, de 31%, enquanto o segundo representa um crescimento de 8%.

Quais são os grupos mais impactados por novas infecções atualmente?

A transmissão do vírus do HIV no Brasil ocorre para praticamente todas as faixas etárias e sexos. Porém, como fatores comportamentais podem aumentar o risco de transmissão, é muito importante analisar individualmente cada um desses grupos. Dessa forma, é possível entender quais grupos apresentam maior risco de novas contaminações e tomar ações para reduzi-lo. O gráfico abaixo mostra um cenário bem diferente para homens e mulheres.

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Observando a distinção por sexo, homens têm a maior probabilidade de contrair o vírus, sendo 26 mil detecções em 2019, contra 11 mil detecções de mulheres, representando 70% do total. Uma tendência preocupante é o aumento de caso nos números de novas detecções para homens, de 3%, enquanto para o sexo feminino foi possível reduzir em 28%.

O cenário para o público masculino

Com foco especificamente nos homens, alguns grupos etários chamam a atenção pelo alto volume de novas detecções, como mostrado no gráfico a seguir.

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Notamos que é crítica a faixa etária de 25 a 29 anos, com 4.473 novas detecções em 2019 e uma tendência de aumento com relação a 2010. A faixa entre 20 e 24 anos também é preocupante, dado o forte aumento em relação a 2010, de 58%, atingindo 3.158 novas detecções. Chama também a atenção o forte crescimento de novos casos entre o público acima de 60 anos, atingindo 1.541 novas detecções e, consequentemente, um aumento de 56%.

Métodos Preventivos

Importante relembrar

O HIV é o vírus responsável pela síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids). Assim sendo, ser portador do vírus HIV não é o mesmo que ter Aids. Há uma fase de latência do vírus do HIV na qual ele não manifesta sintomas visíveis, com a manifestação dos primeiros sintomas de 6 meses até 10 anos após o contágio.

Há também uma grande parcela de pessoas portadoras do HIV que não desenvolvem a doença e nem sintomas, mas ainda sim podem transmitir o vírus através do contato direto com secreções, como: sangue (agulhas e outros perfurlo cortantes compartilhados contaminados), esperma (relações sexuais desprotegidas) e leite materno (de mães não tratadas). Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações. Clique aqui para mais informações.

Prevenção Combinada

Em razão de existir múltiplas maneiras para a ocorrência da contaminação foi traçada uma estratégia denominada Prevenção Combinada, que consiste no uso simultâneo de diversas abordagens de prevenção: biomédicas, comportamentais e socioestruturais, aplicadas à esfera do sujeito, e em escala comunitária. Para que tenhamos maior nitidez foi elaborada uma mandala de prevenção:

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Fonte: Ministério da Saúde

Essas ações podem estar combinadas de acordo com as características individuais e com a fase da vida em que encontra-se cada pessoa.

Como me proteger?

Além das ações básicas de prevenção, como o uso de preservativo masculino ou feminino combinado a lubrificantes a base de água, testes Anti-HIV regulares, teste/diagnóstico regular e tratamento de outras DSTs também são considerados de extrema importância no combate à infecção do HIV. Com o uso de agulhas e seringas individuais, descartáveis e estéreis, pré-natal adequado para gestantes, onde deverão ser submetidas a testes e possível tratamento, não transmitindo o vírus para o bebê, são outras maneiras de prevenção da doença.

Existem as precauções com antirretrovirais (ARV), que, como todos os medicamentos, necessitam de prescrição e acompanhamento de profissionais da saúde habilitados.

PrEP: (Profilaxia Pré-Exposição): A pessoa “prepara o organismo” para enfrentar um possível contato com o vírus através da relação sexual de risco para HIV. Tomando um comprimido diariamente. Tudo sobre PrEP.

PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV): É sempre adotado quando há relação sexual desprotegida, violência sexual ou acidente com perfurocortante sendo assim em casos de urgência que deve ser iniciada preferencialmente no prazo de 72 horas, se possível. O tratamento tem duração de 28 dias. Tudo sobre PEP.

Todas essas ações preventivas citadas no texto são oferecidas gratuitamente pelo SUS.

A vida do soropositivo

Um outro aspecto importante da discussão sobre a Aids é desestigmatizar a vida de portadores do vírus do HIV. Sendo esses estigmas prejudiciais no enfrentamento à pandemia do HIV e causadores de comportamento discriminatório, levando ao tratamento desigual ou injusto aos portadores. É necessário que adotemos uma postura de inclusão e apoio a esse grupo, de forma que eles possam levar vidas comuns com a devida segurança própria, de parceiros e familiares, aderindo aos tratamentos existentes e já difundidos no país.

De forma a facilitar a desestigmatização, apresentamos aqui alguns depoimentos de portadores do vírus.

‘Falavam que eu era rapariga’

Maria Zilma Ferreira dos Santos, 63 anos, técnica de enfermagem, de Juazeiro do Norte (CE) mais…

‘Não tenho antes e depois, nasci com HIV’

Luana Stefany Peixoto de Souza, 25 anos, pesquisadora e recém-formada pela Faculdade de Letras da UFRJ, do Rio de Janeiro (RJ) mais…

Aids não escolhe escolaridade’

Jorge Beloqui, 72 anos, professor de matemática da USP, mais…

O que podemos tirar de lição

Quatro décadas após o início da epidemia de Aids e do avanço nas terapias de prevenção e de tratamento, o estigma e a discriminação ainda fazem parte do dia a dia da maioria das pessoas que vivem com o HIV no Brasil de acordo com reportagem do Jornal Folha de São Paulo.

Um estudo do Unaids (programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids) com 1.784 soropositivos mostra que 64% já sofreram algum tipo de discriminação: 46% por meio de comentários de familiares, vizinhos e amigos, 25% em assédios verbais e 20% chegaram a ter perda de fonte de renda ou foram rejeitados em uma oferta de emprego.

O estigma é tamanho, que 81% dos entrevistados pela Unaids dizem que ainda é muito difícil revelar sua sorologia para outras pessoas.

Podemos concluir que o preconceito e a desinformação ainda persistem, mesmo após 40 anos do surgimento desta epidemia.

“É importante sempre falar sobre Aids, pois é uma forma de levar informações sobre como se transmite a doença. Desde a década de 1990, os ministérios da Saúde e do Trabalho, por exemplo, incluem as DSTs/Aids na Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho e Saúde. Isso, para levar informações também aos trabalhadores, como forma de esclarecer sobre a doença e mostrar que uma pessoa com o vírus HIV pode se relacionar e trabalhar normalmente. Portanto, o HIV não é transmitido por um abraço, aperto de mão e nem no convívio diário. Isso deve ficar muito claro para reduzir o preconceito e a discriminação”, esclarece a referência Sandra Fagundes.

Segundo a técnica da Coordenação Estadual de DST/Aids da Sesa, Bettina Moulin Coelho Lima, é necessário saber também que a doença ainda não tem cura, mas tem tratamento. É gratuito e está disponível nos Serviços de Atendimento Especializados (SAE) e no Centro de Testagem e Atendimento, (CTA), pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É muito importante que as pessoas busquem as Unidades de Saúde para fazer o teste de HIV e, caso positivo, iniciem o tratamento e o acompanhamento.

 

Autor(es): Victor Arnaud, Júlio Cesar São Pedro, André Vitor Caetano

Analista(s): Luciano Domingues

Revisor(es): Rodrigo Castro

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