Combate à Hepatite C no Brasil: vamos retornar aos trilhos?

Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 450 mil pessoas precisam ser diagnosticadas e tratadas da Hepatite C no Brasil. Desde 2015, temos disponível pelo SUS os novos Antivirais de Ação Direta (DAA), que revolucionaram o tratamento da Hepatite C e apresentam taxas de cura de mais de 95%.

A maioria das pessoas que possuem a infecção pelo vírus da Hepatite C não têm conhecimento disso, pois a doença não apresenta sintomas nas fases iniciais na maioria dos casos. Com tratamento disponível, atualmente o maior desafio para eliminação do vírus da Hepatite , está no diagnóstico precoce da doença. Nesta publicação, traremos uma análise sobre os casos de Hepatite C no Brasil, com enfoque no impacto da pandemia de COVID-19 sobre o diagnóstico e tratamento da doença.

Vírus C: a Hepatite com maior número de óbitos no Brasil

Entre os anos de 2000 a 2018, foram identificados no Brasil 74.864 mortes por causas básicas e associadas às hepatites virais. Essas mortes estão mapeadas na Tabela 1. Destas, 76,17% foram associadas à Hepatite C, sendo as Hepatites A, B e D responsáveis conjuntamente por 23,83%.

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Fonte: Ministério da Saúde

Apesar da predominância das mortes por Hepatite C nos últimos anos, este tipo de hepatite tem apresentado queda no coeficiente de mortalidade e no número de óbitos. Em 2014, foram registrados 2.087 óbitos relacionados à doença, já em 2018 foram 1.491 mortes, o que representa uma queda de 25% no número de óbitos, podendo estar relacionada à disponibilidade de tratamento gratuito no Brasil, que apenas começou em 2015 no SUS.

Queda no diagnóstico da Hepatite C durante a pandemia

Nos gráficos 1 e 2, observa-se queda expressiva na taxa de detecção de casos de Hepatite C no Brasil, tanto em números gerais, quanto nas regiões do país. Uma hipótese é que esta mudança ocorreu em virtude dos impactos da pandemia de COVID-19 no número de testagens, como a menor aderência da população, já que uma das formas para fazer o diagnóstico das hepatites é por meio de ações externas, como pontos de testagem em praças, eventos e na ruas.

O Gráfico 1 abaixo mostra a comparação da taxa de detecção de Hepatite C entre as regiões do Brasil, entre 2015 e 2020. Esta taxa é calculada a cada 100.000 habitantes, de acordo com este boletim epidemiológico de 2020 do Ministério da Saúde.

Gráfico 1 – Evolução da Taxa de Detecção de Hepatite C no Brasil (por região) entre 2015 e 2020

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Fonte: Indicadores Hepatites (DCCI)

O Gráfico 2 mostra a taxa de detecção no país entre 2018 e 2020.

Gráfico 2 – Evolução da taxa de detecção de Hepatite C entre 2018 e 2020 no Brasil

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Fonte: Indicadores Hepatites (DCCI)

Ambos os gráficos evidenciam uma queda expressiva em 2020 comparado aos anos anteriores, levando à hipótese de que houve uma deficiência no rastreamento da Hepatite C durante a pandemia.

Tratamento de Hepatite C no Brasil: é importante rastrear!

O Brasil é um dos poucos países que oferta o tratamento para Hepatite C de forma universal e gratuita por meio de um sistema público de saúde. Segundo o Ministério de Saúde, mais de 130 mil brasileiros já se recuperaram da Hepatite C com os medicamentos disponibilizados pelo SUS desde 2015 até outubro de 2020. Houve avanços com relação ao tratamento da Hepatite no Brasil, pois cerca de 40% dos tratamentos já realizados no país foram feitos apenas entre 2019 e 2020.

Vale observar que o ritmo de diagnóstico e tratamento de Hepatite C estava bom, porém durante a pandemia de COVID-19, ocorreu uma redução no número de tratamentos realizados no Brasil. Em um painel interativo disponibilizado pelo Ministério da Saúde, podemos observar uma queda significativa no início de tratamentos para Hepatite C no último ano. Entre 01/01/2019 e 31/12/2019, 36.658 pessoas iniciaram o tratamento, comparado a 19.219 no período entre 01/01/2020 e 31/12/2020. Ou seja, houve uma queda de 47,57% em apenas um ano.

Segundo o planejamento do Ministério da Saúde, a proposta é, até 2030,  ampliar o diagnóstico e tratamento para reduzir em 90% o número de novos casos. Para cumprir o cronograma, a partir de 2019, a meta era diagnosticar 40 mil casos ao ano até 2030. Percebe-se que nos afastamos bastante da meta no ano passado.

Neste contexto, é importante que o profissional da saúde esteja atento e solicite os testes rápidos ou sorológicos, que apontam a presença dos anticorpos anti-HCV. Dentre as indicações de rastreio, ressaltamos a necessidade de realizar o teste em todos os pacientes maiores de 40 anos e nos que apresentam comportamento de risco para infecção pelo vírus da Hepatite C.

Bibliografia

  1. Ministério da Saúde, Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções. Brasília, DF. 2019
  2. Coutinho et al. Nota técnica Hepatite C no Brasil: Panorama atual e desafios em face à pandemia de COVID-19 . São Paulo, SP. 2021 Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/30238/Nota%20T%c3%a9cnica.pdf?sequence=1&isAllowed=y
  3. https://antigo.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/47611-brasil-avanca-no-combate-a-hepatite-c
  4. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/hv/o-que-sao-hepatites/hepatite-c
  5. https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/03/11/tratamento-de-hepatite-c-cai-pela-metade-com-pandemia.htm?next=0001H1386U11N
  6. http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/saude-lanca-plano-para-eliminar-hepatite-c-ate-2030
  7. http://www.aids.gov.br/pt-br/gestores/painel-de-indicadores-epidemiologicos
  8. https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/July/28/07—Boletim-Hepatites-2020–vers–o-para-internet.pdf

 

Autor:  Dayanna Quintanilla, Luciano Domingues e Rodrigo Araújo

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